Um Censo Demográfico levanta informações sobre diversos aspectos de uma população. Além de questões sociais e econômicas, a pesquisa também procura reunir dados relativos aos traços culturais do país. Um exemplo nesse sentido é o esforço em conhecer as religiões ou cultos seguidos pela sociedade e saber como eles se distribuem no território nacional. O tema faz parte do questionário da amostra do Censo 2010 e é composto por uma única pergunta, a qual o entrevistado deverá responder citando o nome de sua religião ou culto.
Para Luiz Antonio Pinto de Oliveira, coordenador de População e Indicadores Sociais do IBGE, a religião é uma importante referência cultural por se tratar de uma crença que é professada por milhões de pessoas: “historicamente é um assunto importante na vida cultural, familiar e espiritual de um povo”. Segundo ele, saber qual religião determinado grupo segue é uma forma de avaliar como esse mesmo grupo enxerga o mundo e qual estilo de vida adota.
Ao aplicar o questionário do Censo, o recenseador vai anotar exatamente a denominação religiosa citada pelo entrevistado. Assim, ao encerrar a coleta de dados, o IBGE vai ter em mãos uma relação com centenas de religiões e cultos. Essa lista será reorganizada e depois cruzada com outras informações coletadas pelo Censo, como rendimento, estado civil e local de moradia. “As informações sobre religião geradas pelo censo são muito aguardadas pelos pesquisadores por serem a única base que cobre todo o país”, ressalta Maria Goreth Santos, pesquisadora da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Pesquisadores acreditam em uma maior segmentação da igrejas
Em um passeio pelas ruas de muitos municípios brasileiros não é difícil perceber a proliferação de igrejas, fator que deve implicar uma maior diversidades de respostas a esse quesito no Censo 2010. “Hoje é muito difícil alguém dizer ‘eu sou católico, espírita, evangélico’. As pessoas dizem a sua denominação: ‘eu sou da Canção Nova, da Nova Vida, da Universal do Reino de Deus ou da igreja do pastor fulano’, o que torna o nosso trabalho de classificação ainda mais difícil”, comenta Goreth.
Segundo a pesquisadora, uma expectativa quanto aos resultados é verificar as segmentações que vêm ocorrendo na Igreja Católica. “Acredito que vamos constatar um crescimento de movimentos dentro da Igreja Católica, como a Renovação Carismática e a Canção Nova, que procuram evitar a saída de fiéis, como já apontou o Censo 2000”, explica Goreth, que também aponta o surgimento de padres cantores como uma vertente da mesma preocupação em atrair fiéis.
Os estudiosos do tema religião também apostam que o Censo 2010 pode mostrar que as igrejas neopentecostais continuam a ganhar mais adeptos. Segundo Goreth, outra expectativa é em relação a um possível aumento do percentual de pessoas que se consideram sem religião. Uma possível leitura desse resultado é o decréscimo da institucionalização da crença: “Isso se vê através do crescimento dos grupos esotéricos, onde as pessoas participam sem ter um compromisso denominacional”, explica Maria Goreth.
Ainda segundo Luiz Antonio, será muito interessante ver a distribuição territorial das diversas religiões e cultos: “vamos ver em quais áreas do país o catolicismo predomina e onde temos concentração de protestantes”. Assim, dependendo da denominação dá para identificar a região em que elas mais se concentram. “Por exemplo, a Igreja Internacional da Graça de Deus tem origem no Rio de Janeiro, local onde ela tem maior incidência”, observa Maria Goreth.
Fonte: Revista Vou te Contar – A Revista do Censo – n° 16 maio/junho 2010