O que vale uma vida? Pena capital?


Posso até explicar, argumentar, questionar, postergar, conviver, buscar razões, tais e quais, porém jamais aceitar, que em resposta a um sistema político, regime, norma, lei, por mais constitucional ou soberana que sejam, valham mais que uma vida humana. Portanto jamais Matar!

Não me colocaria a favor da ideologia do crime, no aplauso das transgressões, na polaridade entre o bem e o mal, mas na certeza que nenhum crime deve ser combatido com outro crime programado, anunciado e proclamado.

Violência gera violência, morte atrai mais morte. Sofrimentos empobrecem, desqualificam economias, políticas e destroem na essência as mentes, o coração e a ética.

Vidas humanas são tragadas pelo ódio, pela intolerância, pela certeza de que em nome de um bem se destroem sonhos. As barbáries continuam assolando as nações. Em nome de ideologias, religiões e projetos mesquinhos vão se destruindo vidas, muitas delas inocentes outras certas de que suas opções e credos as conduzirão para o patíbulo da morte.

Pensando em justiça, estamos à mercê da própria sorte. Não se respeitam mais os acordos internacionais. Não se tem mais uma justiça referencial. Cada qual já tem os seus mecanismos prontos e ordenados para levar a termo suas conjecturas e proeminências.

A transformação das realidades terrenas está em nossas mãos. O cuidado com o outro e com o mundo é prerrogativa que compete a todos nós viventes, animados pelo sopro da esperança da plenitude da existência.

Nesta hora, em que as trevas inundam a noite e ressoam gemidos de armas, calando vozes e destruindo vidas, somente em Deus depositamos nossa esperança e consolação.

A misericórdia é a mais bela atitude daqueles que em Deus buscam a razão para as suas vidas. É na liberdade em Deus que seremos examinados e Nele encontraremos a vida em abundância. O amor é mais forte que a morte. O perdão é o alicerce para a edificação do reino de paz. Lembremos o Papa Francisco dizendo: “Uma paz que não surja como fruto do desenvolvimento integral de todos, não terá futuro e será sempre semente de novos conflitos e variadas formas de violência.” (EG 219)

Na medida em que a fé, a esperança, a caridade reinarem em nosso meio e em nossas relações a fraternidade será uma realidade.

A violência nunca constitui uma resposta justa. “Quando a promoção da dignidade das pessoas é o princípio orientador que nos inspira, quando a busca do bem comum constitui o empenho predominante, estarão sendo colocados alicerces sólidos e duradouros para a edificação da paz.” (1)

Como desejamos ver a profecia de Isaías plenamente realizada entre nós: “das espadas transformadas em arados e do fim de toda a guerra” (cf. Is 2,4-5). Lembrando também Justino de Roma, no século II, ao se dirigir ao imperador para justificar o proceder cristão, disse: “Nós estávamos antes cheios de guerra, de mortes mútuas e de toda maldade, mas renunciamos em toda a terra aos instrumentos guerreiros e transformamos as espadas em arados e as lanças em instrumentos para cultivar a terra, e cultivamos a piedade, a caridade, a fé a esperança” (2)

Estamos no Ano da Paz, momento privilegiado para intensificarmos a nossa oração pela paz. Guia-nos no caminho da paz (cf. Lc 1,79), funda-nos na paz sonhada e querida por Deus. Ensina-nos que o diálogo, a partilha a fraternidade são construtores de um amanhã sem ocaso. Pela oração, temos certeza, que as sombras da morte desaparecerão, e a certeza da luz da vida nova irá prevalecer na escuridão que teimosamente tenta ofuscar o olhar do amanhecer.

Momento também muito oportuno para refletirmos que a “Pena Capital”, não é correção, não é solução e nem exemplo de boa conduta. Abramos o nosso coração e das nações para acolhermos o justo e o pecador, que um dia comerão juntos num mesmo prato e saborearão das delícias da justiça de Deus.

 

Pe. Roberto Alves Marangon “o menor entre vós
Pároco
Paróquia São João Batista – Rudge Ramos – SBC

 

(1) Papa João Paulo II, Mensagem Dia Mundial da Paz de 1999

(2) Justino de Roma. Diálogo em Trifão, n.110

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