Aos pastores acampados sobre as colinas de Belém e, hoje a nós, habitantes de todo este nosso mundo, o Anjo do Natal repete: “Nasceu-vos hoje o Salvador; nasceu para vós! Vinde, vinde para adorá-Lo!”
Mas, tem ainda algum valor e significado um “Salvador” para o homem do terceiro milênio? Será ainda necessário um Salvador para o homem que alcançou a Lua e Marte, e se dispõe a conquistar o universo; o homem que investiga indefinidamente os segredos da natureza e chega até decifrar os códigos maravilhosos do genoma humano? Necessita de um Salvador o homem que inventou a comunicação interativa, que navega no oceano virtual da internet e, graças às mais modernas tecnologias dos meios de comunicação, já fez da Terra, esta grande casa comum, uma pequena aldeia global? Apresenta-se confiante e auto-suficiente artífice do próprio destino, fabricante entusiasta de indiscutíveis sucessos este homem do vigésimo primeiro século.
Como não pensar que, mesmo do fundo desta humanidade satisfeita e desesperada, levanta-se um clamor aflitivo de ajuda? É Natal: hoje entra no mundo “a luz verdadeira, que todo o homem ilumina” (Jo 1,9). “O verbo fez-se carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), proclama João evangelista. Hoje, precisamente hoje, Cristo vem novamente “entre os Seus” e a quem o recebe dá “o poder de se tornar filho de Deus”; ou seja, oferece a possibilidade de ver a glória divina e de compartilhar a alegria do Amor, que em Belém fez-se carne por nós. Hoje mesmo, “o nosso Salvador nasceu no mundo”, porque sabe que precisamos d’Ele. Não obstante as numerosas formas de progresso, o ser humano permaneceu igual ao de sempre: uma liberdade dividida entre bem e mal, entre vida e morte. É precisamente ali, no seu íntimo, naquilo que a Bíblia chama de “coração”, onde ele tem sempre necessidade de ser “salvo”. E talvez, na época atual pós-moderna, tem ainda mais necessidade de um Salvador, porque a sociedade em que vive tornou-se ainda mais complexa, e mais enganosa tornaram-se as ameaças para a sua integridade pessoal e moral. Quem pode defendê-lo senão Aquele que o ama, a ponto de sacrificar na cruz o seu Filho unigênito como o Salvador do mundo?
“Salvator noster”, Cristo é o Salvador, também do homem de hoje. (…) Esta é a nossa esperança; este é o anúncio que a Igreja faz ressoar também neste Natal.
O nosso Salvador nasceu para todos. Devemos proclamá-lo não somente com palavras, mas também com toda a nossa vida, dando ao mundo o testemunho de comunidades unidas e abertas, nas quais reina a fraternidade e o perdão, a acolhida e o serviço recíproco, a verdade, a justiça e o amor.
Papa Bento XVI