Entrevista: Lourdes Araújo Faccina


Lourdes01Quem é essa mulher?

A nova santa brasileira?

A garota propaganda da Bombril? Afinal ela tem 1001 utilidades.

Uma “Padra”?

Nãoooooooooo, a Lourdes é a nossa primeira ministra da palavra! É a primeira mulher que faz a celebração da palavra em nossa comunidade. Ela é o nosso divisor de águas, nossa história será dividida entre o antes e depois das mulheres no altar!

A vida da Lourdes é tão fascinante que iremos contá-la por capítulos. E eu tive o privilégio de fazer essa entrevista onde me emocionei e aprendi muito. Foi uma de minhas melhores experiências como “jornalista” desse informativo. Está preparado para se emocionar também? Então vamos lá:

 Capítulo I – A menina que não conhecia macarrão

Era uma vez uma menina “pobre pobre de marré deci”! Ela morava com os pais e mais duas irmãs em São Caetano do Sul, onde nasceu. Conhecida como a filha do pinguço, pois seu pai bebia muito, a Lourdes teve uma infância bem difícil. Sua mãe, que hoje tem 96 anos de idade e é lúcida, trabalhava como diarista para sustentar a família. Ela tinha três empregos por dia e no final do dia, passava e pegava as roupas de uma pessoa para lavar em casa. A mãe dela quem sustentava a família. O pai, apesar da bebida, foi um pai maravilhoso. Era ele quem cuidava das meninas, era ele quem penteava o cabelo delas e foi ele quem nunca deixou a pequena Lourdes ir descabelada para a escola. Ele fazia tranças religiosamente nas “madeixas” da filha. Ele era o amor da vida da mãe de Lourdes. Os pais dela nunca brigavam, nunca discutiam. Um fato curioso nisso tudo era que, o pai da Lourdes bebia por quinze dias diretos e depois passava dois meses sóbrio. Sempre foi assim. E para evitar que o pai saísse para se embriagar nos bares, elas tinham mil artimanhas para “prender” o pai em casa (como simular barulho de chuva) e ofereciam a bebida para ele ali mesmo.

A pequena Lourdes e suas irmãs não tinham prato, elas comiam em latinhas, tipo latinhas de marmelada. A comida delas era uma massa feita de feijão com farinha. Arroz era raridade e quando tinha passava bem rapidinho por perto das latinhas. A “fartura” vinha quando sua mãe voltava dos trabalhos. Ela vinha com uma porção de comida embrulhada em jornal (isso mesmo que você está lendo, embrulhada em jornal) que ganhava nas casas onde trabalhava. Mas mesmo assim, não conseguia sustentar as meninas e o marido, então, tomou uma decisão difícil. Iria oferecer uma das filhas para trabalhar e morar na casa de uma das patroas. E assim fez!

Chegando à casa da patroa, a mãe de Lourdes apresentou as três filhas. A patroa olhou e mandou que as meninas encostassem-se à parede e que sorrissem. Tal qual se escolhe uma mercadoria. Ela olhou os dentes das meninas e escolheu a Lourdes, que, na época tinha apenas 9 anos de idade. Lourdes trabalhava na casa e frequentou a escola até o 4º ano. Ela foi a melhor aluna da escola, só ganhava 100 (=naquela época a nota máxima era 100). Seu sonho era ser psicóloga, mas acabou fazendo corte e costura.

A família com quem ela morava cuidou dela e a ensinou muitas coisas, por exemplo: comer macarrão (ela NUNCA tinha visto macarrão na vida) e outras coisas gostosas; deu educação e a levava para todos os lugares como babá. Ela acordava 5 horas da manhã para regar as plantas e encerava e lustrava o quintal da casa com um escovão. Foi quando ela tinha 13 anos que seu pai faleceu, com 64 anos, e foi ela quem reconheceu o pai morto. Usou preto durante um ano e ia ao cemitério uma vez por semana visitar o túmulo do pai. Depois que as crianças cresceram a Lourdes passou a ser copeira da casa. Ficou com eles até completar 16 anos quando uma de suas irmãs se casou e, consequentemente, “sobrou” um lugar de volta na casa. Então, lá foi a Lourdes morar na casa pobre novamente, onde só havia feijão com farinha.

Frases da Lourdes importantes que aprendi nesse capítulo:

“Não tive nada (fazendo referência à pobreza), mas fui uma aluna exemplar”

“Fui a filha do pinguço, mas não o envergonhei”

“Ame os pais com seus defeitos e qualidades”.

Capítulo II – A Italianinha Morena

No primeiro capítulo da história de Lourdes Araújo Faccina, vimos que ela voltou para casa aos 16 anos. Com 17 anos se casou com o branquinho, loiro e italiano Roberto Faccina (atual coordenador do Bingo da Quermesse da matriz). A mãe de Lourdes tinha muito medo desse casamento. Afinal, sua filha era moreninha. Será que os italianos não iriam “judiar” dela?

A festa de casamento teve bolo, que ganhou das amigas da firma onde trabalhava, com Ki Suco (lembram do Ki Suco?).

A Lourdes se tornou a única italiana escura da família, lugar onde ela sempre foi muito bem recebida e acolhida. Ela cuidou da sogra durante 13 anos.

Lourdes começou seus trabalhos voluntários na Igreja Nossa Senhora das Dores (no Palmares), onde distribuía leite e rezava o terço nas casas.

Veio para Rudge Ramos há 35 anos e foi convidada por um casal, através das visitas de porta em porta (atividade que o grupo Legião de Maria faz para saber se tem pessoas precisando de visitas, se tem crianças para a catequese/crisma, etc) para ser legionária. O primeiro grupo que entrou foi o Estrela da Tarde. Lá conheceu a Dª Maria do Socorro, mais conhecida como Lilita, que a chamou para ser catequista dos adolescentes (ficou 10 anos com essa função).

Hoje Lourdes tem 59 anos e junto com o Roberto tiveram 2 filhos, a Simone e o Fabio, onde ganharam 5 netinhos (e ela cuida de todos eles) e mais dois “filhos” espetaculares, o genro Junior e a nora Adriana, os quais ela se orgulha muito de tê-los em sua família.

A Lourdes é uma só, mas aparenta ser umas mil…Ela é ministra (da palavra, das exéquias e da pastoral da saúde), catequista (2ª fase), legionária (presidente do grupo Nossa Senhora da Consolata, de jovens a partir de 18 anos), coordenadora da catequese de adulto, correspondente (ou missionária) da Legião de Maria em Penápolis, Araçatuba, Pres. Prudente, Assis e Ourinhos, é quem responde pela Legião de Maria em nossa paróquia e por fim, faz parte do conselho paroquial das pastorais. Querem mais? Então vão ter: como missionária, irá para Portugal, África e Irlanda juntamente com os demais membros da Equipe São Miguel. Aff cansei só de digitar tantas coisas que essa mulher faz!!!!

Se fosse para escolher somente uma atividade entre todas, tarefa que seria MUITO difícil, Lourdes escolheria a Legião de Maria. Ela tem um carinho todo especial pela Legião.

Quando o Pe. Beto a convidou para ser ministra da palavra foi um susto.

Sentiu muito medo, mas não podia dizer não a Cristo. Sua prova de fogo foi na semana da família, dia 24 de abril de 2012.

Ela A-M-O-U celebrar na Capela do Esp. Santo. Amou o povo e a acolhida que teve.

Lourdes agradece emocionada a todos da Capela pela acolhida. Ela ficou admirada com a estrutura de nossa capelinha e mandou um super parabéns para todos por tudo que fizeram e fazem. Disse que os fiéis da capela são muito batalhadores e são uma verdadeira comunidade. Ela agradece ainda, com grande afeto, aos Pe. Beto e Felipe e ao Diácono Cleidson que são sua família!

Por fim Lourdes terminou a entrevista assim:

“Hoje somos vitoriosos, sou muito feliz. Deus já me agraciou com muita coisa. Posso morrer agora, pois já sou realizada”.

Eu teria ainda, muito mais coisas para contar sobre a vida da Lourdes, mas ela me convidou para comer um bolo de banana e eu não resisti (AMO bolo de banana viu gente? Quando alguém fizer pode me dar um pedaço…). Depois eu passo a receitinha do bolo dela pra vocês.

 

Frases marcantes durante a entrevista que fazem parte do segundo capítulo:

“Trabalhei muito junto com meu marido, entrei em uma comunidade dentro da igreja e as portas se abriram.”

“Deus me agraciou com um marido maravilhoso e filhos maravilhosos. Sou muito feliz por ter conseguido formar meus filhos”

“Meu filho e meu genro são como dois irmãos, minha filha e minha nora são como duas irmãs. Quer coisa melhor do que isso?”

“Se precisar a gente se desdobra e faz mesmo”.

“Deus sempre agiu na minha vida, minha escola foi a vida”.

Lourdes, obrigada por nos conceder essa entrevista e partilhar conosco sua linda história de vida. Você é um grande exemplo a ser seguido. Para mim, foi uma honra entrevistá-la e é imenso privilégio ser sua amiga. Que Nossa Senhora das Graças cubra de bênçãos sua família e que o Espírito Santo te ilumine sempre.

Artigos publicados em Junho e Julho 2013 – Jornal Unidos Pelo Espírito Simone Cotrufo França

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