Entrevista com Pe. Paco – Missionário da consolata


1 – Quantos anos tem de sacerdócio?

– No ano próximo, em março, farei 35 anos de sacerdócio.

2 – Quando teve a certeza de que queria ser Padre? Qual era a sua idade? Teve apoio da sua família?

– Ao fim de junho de 1972, num retiro vocacional dos Missionários da Consolata, durante a hora de adoração eu compreendi que Deus me chamava. Até esse momento eu não queria ser sacerdote. Nesse momento que experimentei o chamado de Deus eu estava disposto a fazer qualquer coisa que Ele me pedisse. Nesse momento me sentia o homem mais feliz do mundo.

– Eu tinha 18 anos.

– Eu queria deixar os estudos universitários e entrar na Consolata. Faltava-me um ano para concluir. Meu pai me pediu para que acabasse os estudos. Obedeci meu pai. Nesse último ano de universidade eu tinha que demonstrar para meu pai com a vida e não com as palavras que a minha vocação era uma coisa séria. Quase um ano depois ele começou a falar comigo sobre a minha vocação. Meu pai e minha mãe queriam que eu fosse feliz e se ser missionário era a minha vocação e, por tanto, a minha felicidade, me disseram “adiante”!

3 – Porque escolheu ser Padre missionário? Não sentiu medo ou aperto no coração, pois essa escolha significa ficar não somente longe da família, mas também de seu país de origem, sua cultura?

– Eu não escolhi ser padre missionário. Eu não queria ser sacerdote. Desde o momento que senti o chamado de Deus naquela hora de adoração da qual falei antes, eu nunca mais tive dúvidas sobre quem havia feito a escolha: Deus queria, e eu aceitei!

– Naquele momento eu não senti medo, mas uma grandíssima felicidade. Sem dúvida eu experimentei a presença de Deus na minha vida, todo o seu amor. Não posso esquecer esse momento, que daquela hora em adiante ficou como uma luz inesquecível na minha vida. A experiência daquele instante eclipsava qualquer outra coisa, tudo parecia secundário de fronte a experiência de Deus, do Seu amor, da Sua presença! Eu lembro que naquele mesmo momento que senti o seu chamado, confiei a ele a única preocupação que tinha no meu coração: confiei a Ele o meu irmão caçula, ao qual eu deveria ajudar nos seus estudos universitários. Desse momento em adiante eu não me preocupei mais. Um ano depois daquele retiro, exatamente um mês antes de entrar na Consolata, meu pai teve seu salário quadruplicado, pois era injustamente baixo, éramos pobres. Somente algum tempo depois, lembrando esse aumento de salário do meu pai e o meu pedido a Deus que Ele pensasse em meu irmão, compreendi que Deus, chamando-me, não só me fazia experimentar todo o Seu amor, mas também tomava conta da minha família. E quem melhor que Ele podia cuidar da minha família? E disto tenho tantas provas e experiências desde aquele momento até o dia de hoje!

4 – Para quais países já foi em missão?

– Depois da minha ordenação sacerdotal me pediram para trabalhar na animação vocacional na Espanha. Depois de um ano fui nomeado reitor do nosso seminário teológico de Madrid, do qual tinha saído uma vez ordenado um ano antes. Fiquei no seminário seis anos.

Da Espanha fui destinado a iniciar a nossa primeira missão na Ásia, na Coreia do Sul, junto a outros três missionários. Cada um era de uma nacionalidade diversa. Aí fiquei 18 anos.

Representei nossos missionários que trabalham na Coreia no Capítulo Geral que teve lugar em São Paulo. Neste Capítulo fui escolhido como Conselheiro Geral de nossa congregação religiosa. Assim deixei Coreia e fui viver em Roma por seis anos. Desde Roma, devido ao serviço chamado a desenvolver em favor de meus irmãos missionários, tive a fortuna de visitar muitos países onde a nossa congregação está presente.

– Acabado esse período de serviço, quando esperava a nova destinação (eu pensava que provavelmente iria voltar para a Coreia), me disseram que precisavam de mim no Brasil, no seminário teológico que temos em São Paulo. Eu respondi em seguida que sim, que viria contente. E aqui estou desde então, há três anos.

5 – Quanto tempo em média se fica em missão?

– Não existem períodos marcados para a nossa destinação. Quando vamos a um país como missionários, no coração devemos ter esta certeza: aqui é onde Deus me envia, este é e será meu país e meu povo a partir de agora. Quando Deus quiser, através dos superiores, dirá ou não que precisa de mim em outro lugar. Assim foi para mim até agora. Eu estou no Brasil sem “data de caducidade”, até que Deus quiser.

6 – Qual foi o país mais difícil de adaptar?

– Foi a Coreia. Tudo era novo e diferente daquilo que eu conhecia: sabores, cheiros, cores, cultura, língua, comida, tudo! Pensem que a língua coreana é considerada pela UNESCO uma das línguas mais difíceis do mundo! O primeiro ano eu pensava que não conseguiria nunca gostar da comida coreana. Durante os primeiros oito anos eu estava quase convencido que nunca apreenderia bem a língua coreana. Mas a certeza que Deus nos queria nessa terra e o amor do povo coreano fizeram o milagre. A acolhida e generosidade deste povo são extraordinários, fizeram mais fácil o exercício da paciência, nos fizeram sentir em casa, nos ajudaram a compreender as costumes, hábitos típicos da sua cultura. Depois do primeiro ano, a comida deixou de ser um problema. A língua, não obstante defeitos de pronúncia ou de compreensão de certos termos mais técnicos, chegou a ser o instrumento normal de comunicação sem grandes dificuldades.

7 – Quantos padres missionários há no Brasil atualmente?

– Em torno de 50 missionários estão trabalhando em Brasil. Sem contar os 20 que trabalham na região amazônica (Roraima e Manaus).

8 – Como é a rotina de um padre missionário? O trabalho é o mesmo em todos os lugares aonde vai?

– Depende da atividade que a comunidade desenvolve: se é uma comunidade que trabalha numa paróquia, ou em seminário, ou entre os povos indígenas, ou numa missão do interior.

9 – Com que frequência um padre missionário pode visitar sua família? São férias anuais?

– Normalmente se trabalha em outro continente ou longe do seu país. Saímos de férias a cada três anos por dois ou três meses. É um tempo para estar com a família, descansar, fazer algum curso de renovação, fazer um chek-up na saúde, fazer animação missionária na sua cidade e redondezas. Depende do missionário e das necessidades que ele tem.

” Muito obrigado Pe. Paco pela disponibilidade em dar seu lindo testemunho de vida. Sua história é animadora, linda e um exemplo de fé e perseverança para todos os cristãos. Vamos juntos rezar para que Deus continue abençoando esse lindo e necessário trabalho dos padres missionários.”

 

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