Autor: Webmaster
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Entrevista: Lourdes Araújo Faccina
A nova santa brasileira?
A garota propaganda da Bombril? Afinal ela tem 1001 utilidades.
Uma “Padra”?
Nãoooooooooo, a Lourdes é a nossa primeira ministra da palavra! É a primeira mulher que faz a celebração da palavra em nossa comunidade. Ela é o nosso divisor de águas, nossa história será dividida entre o antes e depois das mulheres no altar!
A vida da Lourdes é tão fascinante que iremos contá-la por capítulos. E eu tive o privilégio de fazer essa entrevista onde me emocionei e aprendi muito. Foi uma de minhas melhores experiências como “jornalista” desse informativo. Está preparado para se emocionar também? Então vamos lá:
Capítulo I – A menina que não conhecia macarrão
Era uma vez uma menina “pobre pobre de marré deci”! Ela morava com os pais e mais duas irmãs em São Caetano do Sul, onde nasceu. Conhecida como a filha do pinguço, pois seu pai bebia muito, a Lourdes teve uma infância bem difícil. Sua mãe, que hoje tem 96 anos de idade e é lúcida, trabalhava como diarista para sustentar a família. Ela tinha três empregos por dia e no final do dia, passava e pegava as roupas de uma pessoa para lavar em casa. A mãe dela quem sustentava a família. O pai, apesar da bebida, foi um pai maravilhoso. Era ele quem cuidava das meninas, era ele quem penteava o cabelo delas e foi ele quem nunca deixou a pequena Lourdes ir descabelada para a escola. Ele fazia tranças religiosamente nas “madeixas” da filha. Ele era o amor da vida da mãe de Lourdes. Os pais dela nunca brigavam, nunca discutiam. Um fato curioso nisso tudo era que, o pai da Lourdes bebia por quinze dias diretos e depois passava dois meses sóbrio. Sempre foi assim. E para evitar que o pai saísse para se embriagar nos bares, elas tinham mil artimanhas para “prender” o pai em casa (como simular barulho de chuva) e ofereciam a bebida para ele ali mesmo.
A pequena Lourdes e suas irmãs não tinham prato, elas comiam em latinhas, tipo latinhas de marmelada. A comida delas era uma massa feita de feijão com farinha. Arroz era raridade e quando tinha passava bem rapidinho por perto das latinhas. A “fartura” vinha quando sua mãe voltava dos trabalhos. Ela vinha com uma porção de comida embrulhada em jornal (isso mesmo que você está lendo, embrulhada em jornal) que ganhava nas casas onde trabalhava. Mas mesmo assim, não conseguia sustentar as meninas e o marido, então, tomou uma decisão difícil. Iria oferecer uma das filhas para trabalhar e morar na casa de uma das patroas. E assim fez!
Chegando à casa da patroa, a mãe de Lourdes apresentou as três filhas. A patroa olhou e mandou que as meninas encostassem-se à parede e que sorrissem. Tal qual se escolhe uma mercadoria. Ela olhou os dentes das meninas e escolheu a Lourdes, que, na época tinha apenas 9 anos de idade. Lourdes trabalhava na casa e frequentou a escola até o 4º ano. Ela foi a melhor aluna da escola, só ganhava 100 (=naquela época a nota máxima era 100). Seu sonho era ser psicóloga, mas acabou fazendo corte e costura.
A família com quem ela morava cuidou dela e a ensinou muitas coisas, por exemplo: comer macarrão (ela NUNCA tinha visto macarrão na vida) e outras coisas gostosas; deu educação e a levava para todos os lugares como babá. Ela acordava 5 horas da manhã para regar as plantas e encerava e lustrava o quintal da casa com um escovão. Foi quando ela tinha 13 anos que seu pai faleceu, com 64 anos, e foi ela quem reconheceu o pai morto. Usou preto durante um ano e ia ao cemitério uma vez por semana visitar o túmulo do pai. Depois que as crianças cresceram a Lourdes passou a ser copeira da casa. Ficou com eles até completar 16 anos quando uma de suas irmãs se casou e, consequentemente, “sobrou” um lugar de volta na casa. Então, lá foi a Lourdes morar na casa pobre novamente, onde só havia feijão com farinha.
Frases da Lourdes importantes que aprendi nesse capítulo:
“Não tive nada (fazendo referência à pobreza), mas fui uma aluna exemplar”
“Fui a filha do pinguço, mas não o envergonhei”
“Ame os pais com seus defeitos e qualidades”.
Capítulo II – A Italianinha Morena
No primeiro capítulo da história de Lourdes Araújo Faccina, vimos que ela voltou para casa aos 16 anos. Com 17 anos se casou com o branquinho, loiro e italiano Roberto Faccina (atual coordenador do Bingo da Quermesse da matriz). A mãe de Lourdes tinha muito medo desse casamento. Afinal, sua filha era moreninha. Será que os italianos não iriam “judiar” dela?
A festa de casamento teve bolo, que ganhou das amigas da firma onde trabalhava, com Ki Suco (lembram do Ki Suco?).
A Lourdes se tornou a única italiana escura da família, lugar onde ela sempre foi muito bem recebida e acolhida. Ela cuidou da sogra durante 13 anos.
Lourdes começou seus trabalhos voluntários na Igreja Nossa Senhora das Dores (no Palmares), onde distribuía leite e rezava o terço nas casas.
Veio para Rudge Ramos há 35 anos e foi convidada por um casal, através das visitas de porta em porta (atividade que o grupo Legião de Maria faz para saber se tem pessoas precisando de visitas, se tem crianças para a catequese/crisma, etc) para ser legionária. O primeiro grupo que entrou foi o Estrela da Tarde. Lá conheceu a Dª Maria do Socorro, mais conhecida como Lilita, que a chamou para ser catequista dos adolescentes (ficou 10 anos com essa função).
Hoje Lourdes tem 59 anos e junto com o Roberto tiveram 2 filhos, a Simone e o Fabio, onde ganharam 5 netinhos (e ela cuida de todos eles) e mais dois “filhos” espetaculares, o genro Junior e a nora Adriana, os quais ela se orgulha muito de tê-los em sua família.
A Lourdes é uma só, mas aparenta ser umas mil…Ela é ministra (da palavra, das exéquias e da pastoral da saúde), catequista (2ª fase), legionária (presidente do grupo Nossa Senhora da Consolata, de jovens a partir de 18 anos), coordenadora da catequese de adulto, correspondente (ou missionária) da Legião de Maria em Penápolis, Araçatuba, Pres. Prudente, Assis e Ourinhos, é quem responde pela Legião de Maria em nossa paróquia e por fim, faz parte do conselho paroquial das pastorais. Querem mais? Então vão ter: como missionária, irá para Portugal, África e Irlanda juntamente com os demais membros da Equipe São Miguel. Aff cansei só de digitar tantas coisas que essa mulher faz!!!!
Se fosse para escolher somente uma atividade entre todas, tarefa que seria MUITO difícil, Lourdes escolheria a Legião de Maria. Ela tem um carinho todo especial pela Legião.
Quando o Pe. Beto a convidou para ser ministra da palavra foi um susto.
Sentiu muito medo, mas não podia dizer não a Cristo. Sua prova de fogo foi na semana da família, dia 24 de abril de 2012.
Ela A-M-O-U celebrar na Capela do Esp. Santo. Amou o povo e a acolhida que teve.
Lourdes agradece emocionada a todos da Capela pela acolhida. Ela ficou admirada com a estrutura de nossa capelinha e mandou um super parabéns para todos por tudo que fizeram e fazem. Disse que os fiéis da capela são muito batalhadores e são uma verdadeira comunidade. Ela agradece ainda, com grande afeto, aos Pe. Beto e Felipe e ao Diácono Cleidson que são sua família!
Por fim Lourdes terminou a entrevista assim:
“Hoje somos vitoriosos, sou muito feliz. Deus já me agraciou com muita coisa. Posso morrer agora, pois já sou realizada”.
Eu teria ainda, muito mais coisas para contar sobre a vida da Lourdes, mas ela me convidou para comer um bolo de banana e eu não resisti (AMO bolo de banana viu gente? Quando alguém fizer pode me dar um pedaço…). Depois eu passo a receitinha do bolo dela pra vocês.
Frases marcantes durante a entrevista que fazem parte do segundo capítulo:
“Trabalhei muito junto com meu marido, entrei em uma comunidade dentro da igreja e as portas se abriram.”
“Deus me agraciou com um marido maravilhoso e filhos maravilhosos. Sou muito feliz por ter conseguido formar meus filhos”
“Meu filho e meu genro são como dois irmãos, minha filha e minha nora são como duas irmãs. Quer coisa melhor do que isso?”
“Se precisar a gente se desdobra e faz mesmo”.
“Deus sempre agiu na minha vida, minha escola foi a vida”.
Lourdes, obrigada por nos conceder essa entrevista e partilhar conosco sua linda história de vida. Você é um grande exemplo a ser seguido. Para mim, foi uma honra entrevistá-la e é imenso privilégio ser sua amiga. Que Nossa Senhora das Graças cubra de bênçãos sua família e que o Espírito Santo te ilumine sempre.
Artigos publicados em Junho e Julho 2013 – Jornal Unidos Pelo Espírito Simone Cotrufo França
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Quaresma, tempo privilegiado de “conversão”
A Quaresma é tempo forte de fazer boa escolha, de parar nas encruzilhadas da vida, de entrar no silêncio do coração, para Quaresma é tempo privilegiado de “conversão”. Conversão é uma questão de amor.
Conversão evoca vinda à fé de um ateu, a mudança de vida de um crente, deixando tudo o que é desordem moral. Conversão é ainda voltar-se para Deus, viver na sua intimidade e presença amiga.
A conversão é essencialmente procurar, descobrir cada vez mais o rosto de Cristo, o coração de Deus. Esta conversão não termina nunca, porque nunca terminamos de descobrir por completo o amor de Deus por nós e jamais seremos capazes de corresponder-lhe plenamente.
A conversão é descobrir o olhar amigo de Jesus. Reconhecer-se pecador é encontrar o olhar de Cristo. É abrir a porta de nosso coração a Cristo. Ele entra, senta-se à mesa, toma refeição comigo e eu com Ele (cf. Ap 3, 20).
A Mateus bastou um olhar, um encontro, um dia para se converter de forma total e definitiva.
Nós temos quarenta dias para imitá-lo. Convertendo-nos e sendo olhar, presença, convite de Cristo, junto dos outros a fazerem o mesmo… É só tentar, é só fazer, é só querer!
Dom Nelson Westrupp, scj
Bispo Diocesano de Santo André
Quaresma 2015
Fonte: Diocese de Santo André
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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS FIÉIS BRASILEIROS
POR OCASIÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2015
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Aproxima-se a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa: tempo de penitência, oração e caridade, tempo de renovar nossas vidas, identificando-nos com Jesus através da sua entrega generosa aos irmãos, sobretudo aos mais necessitados. Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, inspirando-se nas palavras d’Ele «O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos» (Mc 10,45), propõe como tema de sua habitual Campanha «Fraternidade: Igreja e Sociedade».
De fato a Igreja, enquanto «comunidade congregada por aqueles que, crendo, voltam o seu olhar a Jesus, autor da salvação e princípio da unidade» (Const. Dogmática Lumen gentium, 3), não pode ser indiferente às necessidades daqueles que estão ao seu redor, pois, «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo» (Const. Pastoral Gaudium et spes, 1). Mas, o que fazer? Durante os quarenta dias em que Deus chama o seu povo à conversão, a Campanha da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a Sociedade – propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II – como serviço de edificação do Reino de Deus, no coração e na vida do povo brasileiro.
A contribuição da Igreja, no respeito pela laicidade do Estado (cfr. Idem, 76) e sem esquecer a autonomia das realidades terrenas (cfr. Idem, 36), encontra forma concreta na sua Doutrina Social, com a qual quer «assumir evangelicamente e a partir da perspectiva do Reino as tarefas prioritárias que contribuem para a dignificação do ser humano e a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem do ser humano» (Documento de Aparecida, 384). Isso não é uma tarefa exclusiva das instituições: cada um deve fazer a sua parte, começando pela minha casa, no meu trabalho, junto das pessoas com quem me relaciono. E de modo concreto, é preciso ajudar aqueles que são mais pobres e necessitados. Lembremo-nos que «cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus ao serviço da libertação e promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre e socorrê-lo» (Exort. Apost. Evangelii gaudium, 187), sobretudo sabendo acolher, «porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos» (Discurso na Comunidade de Varginha, 25/7/2013). Assim, examinemos a consciência sobre o compromisso concreto e efetivo de cada um na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica.
Queridos irmãos e irmãs, quando Jesus nos diz «Eu vim para servir» (cf. Mc 10, 45), nos ensina aquilo que resume a identidade do cristão: amar servindo. Por isso, faço votos que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, predisponha os corações para a vida nova que Cristo nos oferece, e que a força transformadora que brota da sua Ressureição alcance a todos em sua dimensão pessoal, familiar, social e cultural e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e de viva cooperação. A todos e a cada um, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, envio de todo coração a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.
Vaticano, 2 de fevereiro de 2015.
Franciscus PP.
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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA DE 2015
Fortalecei os vossos corações (Tg 5, 8)
Amados irmãos e irmãs,
Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um «tempo favorável» de graça (cf. 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa connosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.
Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença.
Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar.
A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5, 6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n’Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida.
Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.
1. «Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26): A Igreja.
Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentámos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa «tem a haver com Ele» (cf. Jo 13, 8), podendo assim servir o homem.
A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26).
A Igreja é communio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.
2. «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9): As paróquias e as comunidades
Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?
Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direcções.
Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inactiva no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).
Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.
Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.
Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. Act 1, 8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.
Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!
3. «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5, 8): Cada um dos fiéis
Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?
Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração.
Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum.
E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos. Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.
Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.
Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: «Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso» (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.
Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014.
Francisco
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Avisos Paroquiais
. Inscrições para Catequese
1ª e 2ª fase, Crisma e Catequese de Adultos. Informações na Secretaria.. Romaria para Aparecida e Guaratinguetá
Dias 13 e 14 de Março, informações na Secretaria.. Projetos Musicais: Irmão Sol, Plural e Coral São João Batista
Inscrições e informações na Secretaria. -
Paternidade responsável é justa e generosa ponderação
Assessor da CNBB afirma que paternidade responsável é justa e generosa ponderação
Quarta-feira, 28 Janeiro 2015 – 15:15 Créditos: Jornal O SÃO PAULO – Edição 3036
Por Rafael Alberto
Assessor da Comissão para a Vida e a Família da CNBB, Padre Rafael Fornasier falou com exclusividade a O SÃO PAULO sobre declarações que o Papa Francisco fez recentemente sobre controle da natalidade e paternidade responsável. Padre Rafael explica que os “métodos naturais” sofrem preconceitos por parte de professores e médicos, e garante que juventude bem orientada já faz planejamento familiar corretamente.O SÃO PAULO – O que o Papa quis dizer quando afirmou que católico não deve “procriar feito coelho”?
Padre Rafael Fornasier – Para quem honestamente seguiu o fio das declarações do Papa Francisco durante e logo após sua viagem à Ásia, esta expressão não indica nem oposição às famílias numerosas nem muito menos concessão aos métodos artificiais de contracepção. A expressão apareceu durante a entrevista do Papa no voo de volta de sua viagem, num tom bastante coloquial. Ela se insere no contexto mais amplo da abertura à vida na vida conjugal, como realização humana – pessoa e social – e espiritual. Sobre essa abertura à vida, o Papa se pronunciou há alguns meses, ao apontar que o Matrimônio é fundado sobre a fidelidade, a perseverança e a fecundidade. E fez críticas à mentalidade contemporânea do bem-estar utilitarista que exclui os filhos (em inglês Double Income, No Kids – DINKS).
Valorizando, inclusive, o Beato Paulo VI, certo?
O Papa tem retomado várias vezes a figura do Beato Paulo VI como profética, ao se opor, na Encíclica Humanae Vitae, a um controle de natalidade permeado de interesses escusos, que não visa realmente o bem da família. Em seu discurso às famílias em Manila, em sua audiência ao retornar de sua viagem, e, recentemente, na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa afirmou enfaticamente o fato que a família é um recurso e um bem para a sociedade. E que a família numerosa não é o problema da pobreza na Ásia ou em qualquer outro lugar, mas, é “um sistema econômico que exclui” o causador da pobreza. Somente neste contexto, e em relação a uma adequada noção de paternidade responsável, se pode entender por que o Papa afirma que, para ser um bom católico, não há um dever cristão de procriação em série.
Qual o significado de paternidade responsável?
O número 10 da Humanae Vitae diz o seguinte: “Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento.” Portanto, a paternidade responsável é a justa e generosa ponderação, diante das condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, sobre a acolhida ou não de mais vidas no seio da família. Pode levar muitas famílias a decidir por muitos filhos, como também a evitá-los, mesmo por tempo indeterminado (que pode durar toda a vida do casal), por razões graves ligadas àquelas condições elencadas acima.
Os métodos naturais não fazem, também, com que a relação sexual se feche para a vida?
A doutrina da Igreja sobre a paternidade responsável, desde a Humanae vitae até as atuais declarações do Papa Francisco, propõe uma regulação da natalidade segundo o ritmo natural da fecundidade humana. Tal regulação da natalidade passou a ser vivida por muitos católicos em todo o mundo através dos chamados métodos naturais, dentre eles, o mais amplamente divulgado e empregado é o método de Billings, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e proposto também pelo Ministério da Saúde do Brasil. Tais métodos (Billings, temperatura basal, cristalização da saliva, toque do colo do útero etc.) têm grande respaldo científico e são aplicados e indicados por milhares de ginecologistas e outros profissionais da saúde. Contudo, em todo o mundo, estudantes de medicina e profissionais da saúde, bem como famílias que querem empregar esses métodos, reclamam do fato deles serem tratados com desprezo e até ridicularização por parte de professores, outros profissionais da saúde e famílias que usam métodos contraceptivos.
Que explicação o senhor daria para esse preconceito?
A primeira constatação a ser feita sobre esses tipos de reação é o grande desconhecimento (inclusive de professores universitários) de tais métodos. A segunda é o enorme interesse financeiro que existe por trás da venda dos contraceptivos. Por fim, cabe ressaltar que a orientação sexual veiculada por muitos meios de comunicação e escolas está centrada quase que somente no prazer, por meio de mensagem contraceptiva e sanitarista. Por outro lado, os métodos naturais propõem que se vá além: englobando um esforço contínuo de amadurecimento afetivo-sexual, eles buscam a responsabilidade da relação sexual no horizonte de um projeto a dois e de família. Deixam o casal sempre abertos à vida, mesmo quando se unem durante os períodos inférteis da mulher. Ou seja, eles não incidem na fertilidade do casal, como o fazem os métodos contraceptivos, mas apenas respeitam o ritmo biológico que se abre e se fecha a vida. Como disse o Papa Francisco, esses são “soluções lícitas”. Isso é a paternidade responsável. “Isto é claro e por isso, na Igreja, há os movimentos matrimoniais, há os especialistas no assunto, há os pastores, e investiga-se.” Todos são capazes de serem acompanhados e formados nesse caminho.
Mas com a cultura atual, os jovens conseguem seguir essa orientação?
Dizer que isso é impossível para os casais jovens da atualidade é desconhecer que muitos o praticam e o transmitem, com grande fiabilidade e respaldo científico, como já dissemos. Querer também impor os métodos de uma hora para outra na vida conjugal de muitos casais católicos que não o vivem também é um erro segundo a moral cristã. O aprendizado exige crescimento gradual (lei da gradualidade) com o auxílio dos outros e a graça de Deus, para quem assim o acredita. A mensagem sobre os métodos naturais ainda é muito desconhecida por pastores, religiosos e leigos, em grande parte devido ao preconceito que sofre. Caminhar com os jovens namorados, com os jovens casais ou casais com alguns anos de vida requer abertura e paciência para se adentrar no tema, que pode ser compreendido e vivido.